Fauna e Flora
Fauna
Conforme é observado no ano de 1970, a vegetação nativa fora substituída, quase que em todo o território, pelas culturas de café, pastagens e culturas anuais (principalmente algodão e milho).
Mesmo a vegetação de galeria constituída como área de preservação permanente, foi em muitos cursos d´água, completamente retirada, sem direcionamento e planificação do uso da terra. Consequentemente, a população de animais reduziu drasticamente tanto em número de animais como em espécies. Os animais remanescentes abrigaram-se em pequenas áreas ainda preservadas como o caso da “Mata da Companhia”, localizada no município de Jussara, ao Norte de Cianorte e próximo ao rio Ivaí.
No entanto, por muitos anos, a caça criminosa de animais como pacas, cotias, capivaras, veados campeiros e aves da região (sabiás, pássaros-pretos) foi sustentada por indivíduos inescrupulosos. No intuito de repressão, a CMNP mantinha vigilância, juntamente com o Instituto Ambiental do Paraná – IAP, ligado ao extinto ITCF (Instituto de Terras Cartografia e Florestas do Estado do Paraná).
Eram comuns as apreensões de fazendeiros, sitiantes e caçadores transportando caça ilegal, mas o custo do crime era irrisório ao ato.
O mesmo processo criminoso ainda continua na “Reserva Biológica das Perobas” ao Sul do município de Cianorte e dentro do município de Tuneiras do Oeste.
Flora
No Estado do Paraná, assim como em todo o território brasileiro, os recursos florestais, principalmente de espécies arbóreas, têm sido intensamente explorados, gerando riqueza e desenvolvimento, mas de maneira desordenada, acarretando a fragmentação e degradação das florestas naturais, sem a preocupação com a sustentabilidade.
Tendo em vista o quadro atual de degradação ambiental, observa-se que houve aumento de conscientização de órgãos públicos e privados para reversão dessa situação. Dessa forma, nunca se falou tanto no princípio de sustentabilidade, que emerge no contexto da globalização como a marca de um limite e o sinal que reorienta o processo civilizatório da humanidade, produzindo seus efeitos para o futuro a partir de um olhar pelo passado. O que se quer é reconstruir a ordem econômica, adicionando o componente da sustentabilidade no âmbito de sua atuação. Por aí se vê que a tarefa de compatibilizar a produção econômica, o crescimento urbano e econômico com a perfeita integração ao meio ambiente é das mais complexas (Braga, 2004).
É evidente que só se poderão conservar duradouramente os benefícios da floresta desenvolvendo-se formas de aproveitamento sustentado, de modo a satisfazer as necessidades da população local e atender aos objetivos econômicos, ambientais e sociais do país.
As florestas tropicais encontram-se entre os principais ecossistemas ameaçados pela ocupação humana e nas últimas décadas intensificaram-se os estudos a fim de compreender os efeitos da ação antrópica sobre este ecossistema e processos responsáveis por sua manutenção (Lugo et. al. 1993). Compreender estes processos e seus principais fatores condicionantes é prérequisito para o desenvolvimento de iniciativas voltadas para conservação, manejo ou restauração de ecossistemas (Dobson et. al., 1997; Ashton et. al., 2001).
No Estado do Paraná ocorre grande diversidade de ambientes e ecossistemas, em função de sua localização e características fisiográficas. Com o processo de colonização e expansão das fronteiras agrícolas, esses ambientes e ecossistemas foram sendo gradativamente eliminados e substituídos, remanescendo poucas áreas naturais. A paisagem original do Paraná era dominada pelas florestas, que cobriam 85% do território, deixando para os campos e várzeas apenas 15%. Vários fatores contribuíram para configurar os diferentes ambientes dessas paisagens, dentre eles, o tipo de solo, relevo, material de origem, biota e o tempo (Quiqui, 2004).
Hoje, calcula-se que o Paraná tenha apenas 1,3 milhões de hectares de remanescentes das grandes florestas, das quais 40% estão concentrados em áreas protegidas, no litoral e no extremo Oeste. O restante das florestas nativas é constituído por áreas particulares, em geral pequenas e já alterado pela retirada das espécies de valor econômico (SPVS, 1996). As florestas naturais em bom estado de conservação resumem-se ao Parque Nacional do Iguaçu, a Serra do Mar e pequenas ilhas de florestas, correspondendo a 3,5% da área total do Estado (Castelano, 2004).
Com o cenário em que se encontram as florestas no Brasil e principalmente no Paraná, deve-se salientar a importância de se proteger e incentivar a pesquisa, educação e lazer em remanescentes florestais naturais, quaisquer que sejam suas dimensões e diversidade biológica. O município de Cianorte apresenta um desses remanescentes, com dimensões
consideráveis e com uma diversidade biológica como pouco encontrada na região.
Os objetivos deste trabalho foram:
- realizar o inventário florestal da área considerando-se a diversidade de tipologia observada na área;
- quantificar e qualificar a diversidade arbórea do Parque;
- realizar a análise estrutural da floresta, para fornecer informações acerca do potencial florestal da área;
- fornecer subsídios para a conservação dos recursos florestais e propor o plano de manejo para a área em questão;
- levantar áreas de risco, onde os fragmentos encontram-se ameaçados pela ação antrópica e áreas degradas por diversos vetores;
- propor medidas de controle e recuperação desses ecossistemas.
Situação original:
A área onde está inserido o Parque Cinturão Verde de Cianorte tem formação florestal original pela Floresta Estacional Semidecidual.
A Floresta Estacional Semidecidual, no Estado do Paraná, encontra-se com apenas uma subdivisão, de acordo com IBGE (1992) e Resolução do Conama no 02, de 18 de março de 1994, situando-se em uma faixa altimétrica que varia de 200 a 600 m s.n.m., denominando-se como a Floresta Estacional Semidecidual Submontana.
As formações vegetais dessa unidade têm como principal característica fisionômica a semidecidualidade, na estação seca. A vegetação está condicionada a uma dupla estacionalidade climática, uma tropical com época de intensas chuvas de verão, seguida por estiagem acentuada e uma outra, subtropical, sem período seco, mas com seca fisiológica, provocada pelo frio, com temperaturas inferiores a 15ºC e ocorrência de até 20 geadas anuais (IBGE, 1990).
Nesse tipo de formação vegetal as árvores caducifólias situam-se entre 20 e 50% da cobertura vegetal superior da floresta, fenômeno condicionado ao regime hídrico da floresta. Os solos são basicamente derivados dos derrames basálticos, com altitudes em média de 200–700 m s.n.m (IBGE, 1990; Roderjan et al., 1993; Martins et al., 2004).
Na Floresta Estacional Semidecidual Submontana, a Aspidosperma polyneuron Müll. Arg. (Apocynaceae) é a espécie mais característica, dominando um dossel elevado entre 30 a 40 m de altura e denso, onde são comuns também Tabebuia heptaphylla (Vell.) Toledo (Bignoniaceae), Peltophorum dubium (Spreng.) Taub. (Caesalpinaceae), Balfourodendron riedelianum (Engl.) Engl. (Rutaceae), Ficus luschnathiana, Gallesia gorazema (Vell.) Moq. (Phytolaccaceae), Holocalyx balansae Micheli (Fabaceae), Astronium graveolens Jack. (Anacardiaceae), Pterogyne nitens Tul. (Fabaceae), Diatenopteryx sorbifolia Radlk. (Sapindaceae), Chorisia speciosa A. St.-Hil. (Bombacaceae), Cordia trichotoma (Vell.) Arráb. ex Steud. (Boraginaceae), Apuleia leiocarpa (Vogel) J.F. Macbr. (Fabaceae), Enterolobium
contortisiliquum (Vell.) Morong, Parapiptadenia rigida (Benth.) Brenan (Mimosaceae) e Cedrela fissilis. Nos estratos inferiores são característicos Euterpe edulis, Syagrus romanzoffiana, Trichilia claussenii C. DC., Guarea kunthiana C. DC. (Meliaceae), Inga marginata, Jacaratia spinosa (Aubl.) A. DC. (Caricaceae), Helietta longifoliata Britton (Rutaceae), Sorocea bonplandii (Baill.) W.C. Burger, Lanj & Wess. Boer (Moraceae) e Allophylus guaraniticus (St. Hil.) Radlk.
(Sapindaceae).
Como resposta à redução expressiva da precipitação e da umidade relativa do ar nos meses do inverno, o epifitismo é extremamente modesto, sendo Philodendron bipinnatifidum Schott ex dl. (Araceae) a espécie mais característica. A presença de lianas é expressiva, sendo Bignoniaceae, Sapindaceae, Cucurbitaceae e Asteraceae as famílias mais comuns.
Essa formação ocorre em litologias variadas, sobre diferentes unidades pedológicas, sendo as mais comuns Latossolos, Argissolos, Nitossolos, Cambissolos, Neossolos Litólicos e Neossolos Quartzarênicos.
No Estado do Paraná encontra-se também a formação montana. No entanto, quando não configura um ecótono com a Floresta Ombrófila Mista, que pode ser diagnosticado pela mistura de espécies características dessas duas grandes unidades fitogeográficas, se assemelha fisionômica, estrutural e floristicamente à formação submontana, situada abaixo de 600 m s.n.m (Roderjan et al., 1993).
Além da análise da vegetação adulta, o estudo da regeneração natural permite a realização de previsões sobre o comportamento e desenvolvimento futuro da floresta, pois fornece a relação e a quantidade de espécies que constitui o seu estoque, bem como suas dimensões e distribuição na área (Carvalho, 1982). Através do estudo da regeneração natural são obtidas informações sobre auto-ecologia, estádio sucessional, efeitos da exploração florestal, entre outras
informações importantes (Higuchi et al., 1985).
É por meio da regeneração natural que as florestas apresentam capacidade de se recuperar de distúrbios naturais ou antrópicos. Quando uma determinada área de floresta sofre um distúrbio como a abertura natural de uma clareira, um desmatamento ou um incêndio, a sucessão secundária se encarrega de promover a colonização da área aberta e conduzir a vegetação por uma série de estádios sucessionais. Estes são caracterizados por grupos de plantas que vão se
substituindo ao longo do tempo, modificando as condições ecológicas locais até chegar a uma comunidade bem estruturada e mais estável.
A regeneração natural decorre da interação de processos naturais de restabelecimento do ecossistema florestal. É, portanto, parte do ciclo de crescimento da floresta e refere-se às fases iniciais de seu estabelecimento e desenvolvimento.